28/10/2022 às 03h39min - Atualizada em 28/10/2022 às 03h39min

“É a construção civil que vai fomentar a economia nos próximos anos”

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Precisamos entender que todos nós podemos ganhar muito se formos mais sustentáveis. - Foto: CBIC/DIVULGAÇÃO
O setor da construção tem demonstrado resiliência desde o início da pandemia. Após dois anos de bons resultados, o primeiro semestre de 2022 foi marcado pelo alto custo das commodities e fretes e pela perda do poder aquisitivo das famílias, o que levou as incorporadoras a frear os lançamentos. Mas a recuperação já chegou e os bons ventos voltam a soprar, aposta José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), na entrevista a seguir.

Qual é a sua avaliação do setor da construção em 2022?

José Carlos Martins — Após dois anos de forte crescimento, com oito trimestres positivos consecutivos, o setor sofreu retração, refletindo o repasse dos altos custos de construção para os preços dos imóveis e a diminuição do poder aquisitivo das pessoas devido à inflação. O primeiro trimestre foi muito ruim, com queda de 25,6% nos lançamentos de unidades populares em relação ao mesmo período de 2021. As empresas perceberam que imóveis viáveis ​​não caberiam mais no bolso das famílias.

Isso mudou com as mudanças na política de subsídios?

Sim, após essas mudanças, o cenário começou a melhorar no segundo semestre. Em agosto e setembro, o volume de financiamentos contratados para o programa habitacional federal já vinha crescendo 40%, em relação a 2021. Isso indica que fecharemos este ano com crescimento em torno de 10% nos contratos e 3,5% no PIB. construção.

E a geração de empregos?

Continuaremos positivos. Segundo dados do Caged, o setor gerou mais de 665 mil empregos formais entre julho de 2020 e setembro deste ano.

O que é preciso para manter esse ritmo?

Dobrar a participação da construção civil no PIB nacional. Para isso, é preciso adotar medidas macro, como garantir o fluxo de recursos para financiamento. Não podemos ter soluços, nem investir pouco. Independentemente de quem seja o próximo presidente da República, é preciso que haja uma decisão política de construir mais casas no país.

O presidente precisa ver a construção civil como a verdadeira locomotiva para o crescimento da economia brasileira, como acontece em vários países. Nos Estados Unidos, com toda a economia digital, o setor tem uma participação no PIB três vezes maior que a nossa. Há um indicador importante. Segundo analistas, nossa economia está 0,3% abaixo de seu pico de atividade, ocorrido em 2014. Por outro lado, a construção civil está 23,69% abaixo de seu desempenho máximo histórico – também para aquele ano. Isso mostra o tamanho da oportunidade e onde ela está. Qualquer funcionário do governo deve entender que é a construção civil que vai gerar empregos e fomentar a economia nos próximos anos.

O cenário internacional recente impactou muito a construção civil? O que pode ser feito para mitigar esse efeito?

O aumento dos preços das commodities e dos combustíveis afetou diretamente o setor em que o custo do frete, por exemplo, é muito importante. Acredito que é necessário abrir mais canais com fornecedores no exterior, para regular o preço dos insumos do setor no mercado interno por meio da livre concorrência.

Como a sustentabilidade impacta o presente e o futuro da construção civil?

Precisamos entender que todos podemos ganhar muito se formos mais sustentáveis. Alocar parte do mercado para casas de madeira, por exemplo. A madeira não emite gases de efeito estufa, captura carbono e, dependendo da região, não precisa de transporte de longa distância.
Em Rio Branco (AC), a construção depende do cimento que vem de Brasília. Você consegue imaginar quanto carbono é emitido nesse processo? Eles poderiam usar madeira de reflorestamento para fazer casas, principalmente nas áreas mais degradadas da cidade. Então eu vejo sustentabilidade e ESG como grandes oportunidades para o setor.

Como aumentar a produtividade da construção?

Com industrialização, inovação e capacitação da mão de obra. Esses devem ser os pilares da transformação da produtividade do setor.
A industrialização dos processos reduzirá bastante a quantidade de resíduos, a necessidade de retrabalho e o desperdício de tempo e materiais. Nosso modelo construtivo avançou, mas ainda é arcaico em muitos aspectos. A necessidade de inovação para reduzir custos de construção também é inegável, algo que já vem acontecendo, se compararmos os valores agora com os de uma década atrás.
Uma pesquisa que realizamos este ano mostrou que 89% das empresas do setor consultadas sofrem com a falta de profissionais mais qualificados. Os trabalhadores da construção civil, por exemplo, têm muito, mas a cada dia precisamos de menos deles e de mais operadores de empilhadeiras.
Se, por um lado, assistimos a uma modernização na gestão do setor imobiliário nos últimos anos, agora é o momento de dar um impulso à fase de construção para a tornar mais produtiva e competitiva.


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