Precisamos entender que todos nós podemos ganhar muito se formos mais sustentáveis. - Foto: CBIC/DIVULGAÇÃO O setor da construção tem demonstrado resiliência desde o início da pandemia. Após dois anos de bons resultados, o primeiro semestre de 2022 foi marcado pelo alto custo das commodities e fretes e pela perda do poder aquisitivo das famílias, o que levou as incorporadoras a frear os lançamentos. Mas a recuperação já chegou e os bons ventos voltam a soprar, aposta José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), na entrevista a seguir.
Qual é a sua avaliação do setor da construção em 2022? José Carlos Martins — Após dois anos de forte crescimento, com oito trimestres positivos consecutivos, o setor sofreu retração, refletindo o repasse dos altos custos de construção para os preços dos imóveis e a diminuição do poder aquisitivo das pessoas devido à inflação. O primeiro trimestre foi muito ruim, com queda de 25,6% nos lançamentos de unidades populares em relação ao mesmo período de 2021. As empresas perceberam que imóveis viáveis não caberiam mais no bolso das famílias.
Isso mudou com as mudanças na política de subsídios? Sim, após essas mudanças, o cenário começou a melhorar no segundo semestre. Em agosto e setembro, o volume de financiamentos contratados para o programa habitacional federal já vinha crescendo 40%, em relação a 2021. Isso indica que fecharemos este ano com crescimento em torno de 10% nos contratos e 3,5% no PIB. construção.
E a geração de empregos? Continuaremos positivos. Segundo dados do Caged, o setor gerou mais de 665 mil empregos formais entre julho de 2020 e setembro deste ano.
O que é preciso para manter esse ritmo? Dobrar a participação da construção civil no PIB nacional. Para isso, é preciso adotar medidas macro, como garantir o fluxo de recursos para financiamento. Não podemos ter soluços, nem investir pouco. Independentemente de quem seja o próximo presidente da República, é preciso que haja uma decisão política de construir mais casas no país.
O presidente precisa ver a construção civil como a verdadeira locomotiva para o crescimento da economia brasileira, como acontece em vários países. Nos Estados Unidos, com toda a economia digital, o setor tem uma participação no PIB três vezes maior que a nossa. Há um indicador importante. Segundo analistas, nossa economia está 0,3% abaixo de seu pico de atividade, ocorrido em 2014. Por outro lado, a construção civil está 23,69% abaixo de seu desempenho máximo histórico – também para aquele ano. Isso mostra o tamanho da oportunidade e onde ela está. Qualquer funcionário do governo deve entender que é a construção civil que vai gerar empregos e fomentar a economia nos próximos anos.
O cenário internacional recente impactou muito a construção civil? O que pode ser feito para mitigar esse efeito? O aumento dos preços das commodities e dos combustíveis afetou diretamente o setor em que o custo do frete, por exemplo, é muito importante. Acredito que é necessário abrir mais canais com fornecedores no exterior, para regular o preço dos insumos do setor no mercado interno por meio da livre concorrência.
Como a sustentabilidade impacta o presente e o futuro da construção civil? Precisamos entender que todos podemos ganhar muito se formos mais sustentáveis. Alocar parte do mercado para casas de madeira, por exemplo. A madeira não emite gases de efeito estufa, captura carbono e, dependendo da região, não precisa de transporte de longa distância.
Em Rio Branco (AC), a construção depende do cimento que vem de Brasília. Você consegue imaginar quanto carbono é emitido nesse processo? Eles poderiam usar madeira de reflorestamento para fazer casas, principalmente nas áreas mais degradadas da cidade. Então eu vejo sustentabilidade e ESG como grandes oportunidades para o setor.
Como aumentar a produtividade da construção? Com industrialização, inovação e capacitação da mão de obra. Esses devem ser os pilares da transformação da produtividade do setor.
A industrialização dos processos reduzirá bastante a quantidade de resíduos, a necessidade de retrabalho e o desperdício de tempo e materiais. Nosso modelo construtivo avançou, mas ainda é arcaico em muitos aspectos. A necessidade de inovação para reduzir custos de construção também é inegável, algo que já vem acontecendo, se compararmos os valores agora com os de uma década atrás.
Uma pesquisa que realizamos este ano mostrou que 89% das empresas do setor consultadas sofrem com a falta de profissionais mais qualificados. Os trabalhadores da construção civil, por exemplo, têm muito, mas a cada dia precisamos de menos deles e de mais operadores de empilhadeiras.
Se, por um lado, assistimos a uma modernização na gestão do setor imobiliário nos últimos anos, agora é o momento de dar um impulso à fase de construção para a tornar mais produtiva e competitiva.